Você me ajuda pelo amor ao mar?
quando você se joga sem dúvida na água e deixa
a onda de sal e vida te levar?
Ou então pelo amor ao céu?
o qual você suspira admirando as luminosas
ou se acarinha no peito da lua fria que nos ignora como deus?
Eu fui desescalar o interior das tuas pernas e
começou a desmoronar. Minhas cordas vocais não aguentaram a pressão
Cairam como Alice num buraco sem gato. Fiquei sem grito, no sufoco engasgada
Alguém me ajuda porque eu já não sei como controlar
tem muito amor eclodindo e ainda tem outros ninhos por lá
Todo mundo sabe que veias entupidas de afeto podem romper a qualquer momento.
As palavras dançaram arrancando meus olhos e os dispondo noutro salão
Encontrei aliviada um coelho branco, mas esse era comum,
só roía meus pés e olhava pro mundo com olhos de sabão
Com a visão perdida dentro dos teus poros, fui proutros sentidos
Os teóricos correram gargalhando da minha incapacidade de ação
Virei cabra-cega, um bobo da corte da monarca Vida
Na festa havia violinos desafinados arranhando pra todo lado
Van Gogh ofereceu girassois ao meu nariz e aproveitou para
minhas orelhas cortar. Como posso culpá-las de pedir ajuda a um amigo?
Ajuda porque meus dedos já estão se retraindo
E só as mãos podem ainda me salvar
Pensei que seria onça pela unha afiada que se tornou o menorzinho
Mas logo veio a garra de coruja no anelar
Ajuda porque daqui a pouco não consigo nem escr
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
domingo, 26 de julho de 2015
Cansa ser de Humanas
Eu acho MUITA graça dessa zoeira de ser de "humanas" e "fazer miçanga". Inclusive eu mesma faço piada disso ao menos uma vez por dia. Mas já que eu sou de humanas (e cansativa), cabe problematizar, não?
Algumas possíveis interpretações:
- "vender minha arte na praia" (sim, eu sei que era de um vídeo e virou meme e mimimi) - Arte (adoram dizer que história é arte tentando desqualificá-la, como se arte tivesse valor menor que a ciência). Praia, teoricamente, é pra relaxar, ficar tranquilo, onde não se precisa levar nada a sério.
- "fazer vários nadas" - Insinua que cientistas humanos não fazem nada e se fazem é irrelevante, logo é como se não fosse nada (-- Ai Paula, que nada a ver --Péra,mig, péra que tem algo mais concreto que minha leitura).
É nítido que isso é reflexo de como cientistas humanos são vistos pela comunidade científica de exatas e biológicas, pela sociedade e pelo Estado.
Eu cursei Geografia e os professores chamavam atenção para o objeto dela e a necessidade de delimitar o que era geografia e o que não era, talvez não só por um arcaísmo positivista, mas para conferir legitimidade à ciência. Agora, cursando História, vejo como a todo momento temos que ficar provando que o quê fazemos é ciência, mesmo que haja algo de artístico nela. É cansativo ter de convencer todas as pessoas e sempre que estudamos muito, que temos métodos e ficar citando exemplos da nossa relevância social, política, econômica e cultural e pior que isso, é injusto sermos inferiorizados e desvalorizados pelo(s) Estado(s) e Instituições Privadas de Pesquisa. Vide os exemplos:
-"Ciências sem Fronteiras" não contempla C.H. ;
- No prêmio "Mulheres na Ciência" de L'Oréal/UNESCO/ABC não tem categoria para Cientistas Humanas;
- A inconstância da Sociologia e Filosofia no Currículo do Ensino Básico;
- Pesquisadores de Engenharia têm em média um salário de R$ 12.000,00, pesquisadores e profissionais da Saúde de R$ 8.000,00, já os da C.H menos de R$ 3.000,00 (Dados do IPEA, 2012);
- Desvalorização e precarização do profissional da Educação.A piada é válida e engraçada, mas revela bem mais que uma rixa entre os estudantes.
Enquanto a modernidade não cai de vez nem há projeto educacional sério no país nem há implosão total do capitalismo... a gente continua rindo, mas sem deixar de correr atrás da mudança.
Rindo e fazendo origami de dinossauro! *-*
Algumas possíveis interpretações:
- "vender minha arte na praia" (sim, eu sei que era de um vídeo e virou meme e mimimi) - Arte (adoram dizer que história é arte tentando desqualificá-la, como se arte tivesse valor menor que a ciência). Praia, teoricamente, é pra relaxar, ficar tranquilo, onde não se precisa levar nada a sério.
- "fazer vários nadas" - Insinua que cientistas humanos não fazem nada e se fazem é irrelevante, logo é como se não fosse nada (-- Ai Paula, que nada a ver --Péra,mig, péra que tem algo mais concreto que minha leitura).
É nítido que isso é reflexo de como cientistas humanos são vistos pela comunidade científica de exatas e biológicas, pela sociedade e pelo Estado.
Eu cursei Geografia e os professores chamavam atenção para o objeto dela e a necessidade de delimitar o que era geografia e o que não era, talvez não só por um arcaísmo positivista, mas para conferir legitimidade à ciência. Agora, cursando História, vejo como a todo momento temos que ficar provando que o quê fazemos é ciência, mesmo que haja algo de artístico nela. É cansativo ter de convencer todas as pessoas e sempre que estudamos muito, que temos métodos e ficar citando exemplos da nossa relevância social, política, econômica e cultural e pior que isso, é injusto sermos inferiorizados e desvalorizados pelo(s) Estado(s) e Instituições Privadas de Pesquisa. Vide os exemplos:
-"Ciências sem Fronteiras" não contempla C.H. ;
- No prêmio "Mulheres na Ciência" de L'Oréal/UNESCO/ABC não tem categoria para Cientistas Humanas;
- A inconstância da Sociologia e Filosofia no Currículo do Ensino Básico;
- Pesquisadores de Engenharia têm em média um salário de R$ 12.000,00, pesquisadores e profissionais da Saúde de R$ 8.000,00, já os da C.H menos de R$ 3.000,00 (Dados do IPEA, 2012);
- Desvalorização e precarização do profissional da Educação.A piada é válida e engraçada, mas revela bem mais que uma rixa entre os estudantes.
Enquanto a modernidade não cai de vez nem há projeto educacional sério no país nem há implosão total do capitalismo... a gente continua rindo, mas sem deixar de correr atrás da mudança.
Rindo e fazendo origami de dinossauro! *-*
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segunda-feira, 18 de maio de 2015
Quantos dos seus amigos são Porcos Espinhos?
Ela tinha 11 anos gostava de
se esconder, filmar os outros e queria se matar no próximo aniversário. Sentia
que para ela havia um lugar no mundo, mas de tal forma ilógico e predestinado
que a tornava depressiva.
Essa é Paloma, personagem do
filme “O Porco Espinho”, o primeiro filme da diretora francesa Mona Achache,
lançado em 2009.
Durante o filme acompanhamos
Paloma construindo laços afetivos com Kakuro Ozu, o novo morador do prédio, e
Renée, a zeladora “educada, mas não simpática”. Entre outros elementos, há um,
que considero o principal conector entre as personagens: o conhecimento.
É fácil se identificar com
as personagens e recordar momentos como o delas: uma frase completada por um
desconhecido, a arrogância de quem te acha invisível, a briga com os pais, a
gentileza inesperada, trocar olhares de entendimento e etc...
Sabe aquela sensação de: eu
queria que essas pessoas fossem minhas amigas? Como viram é fácil gostar do
filme.
O que é difícil é olhar para o lado e não sentir isso. Não entendam como
auto piedade, é apenas uma constatação: laços afetivos estão cada vez mais
escassos. Encontrar-se no mundo às vezes parece impossível.
Não é uma mera questão
racional, como por exemplo: “ah, temos os mesmos gostos, seremos amigos”, ou “Temos
amigos em comum, logo nos identificaremos”... não é isso de que falo.
Falo de olhar para o outro e
perceber e admirar a grandeza abismal de sentimentos, pensamentos, experiências
que estão na sua frente, de reconhecer um coração batendo e vivendo tanto
quanto o seu, ver a beleza da dialética entre qualidades e defeitos que constroem
e reconstroem aquele ser a cada instante.
É poder conversar horas a
fio sem precisar, sem cobrar e se sentir confortável nos silêncios. É se conectar
e querer manter a conexão apesar das divergências. É saber que assim você aquela
pessoa também luta e sonha com algo melhor. Poder chorar sem sentir vergonha e
rir de absurdos.
Eu encontro no mínimo 40
pessoas todos dos dias, segundo meu Facebook eu já me encontrei e cumprimentei
umas 800 pessoas.
E com quantas eu sinto a tal
da conectividade? Sendo otimista: com 5 pessoas, sendo que 3 dessas eu
raramente encontro/converso. E então eu só posso concordar com Nietzsche quando
ele diz: “A arte existe para que a realidade não nos destrua.”, logo desejo que a música, os livros e os filmes nos ofereçam suas mãos, nos abracem
na carência, riam da nossa melancolia e afaguem nossos corações.
quinta-feira, 14 de maio de 2015
Como me tornei uma mulher e feminista
Quase minha vida toda eu admirei homens, homens do gênero masculino, digo. Os meus cantores favoritos eram homens, os escritores e poetas também homens, bem como atores e a maioria dos meus amigos sempre foram homens.
Quando
era pequena e não gostava de brincar de boneca e casinha, vestia-me com “roupas
de menino” e um boné na cabeça para jogar futebol na rua, subir na árvore,
andar de bicicleta, jogar bete com meus amigos “homens”.
Minhas
referências femininas sempre foram mulheres fortes: minha mãe: mandona e
incisiva; minha avó materna: de aparência fria, trabalhadora e independente,
uma fortaleza; minha avó paterna: corajosa e senhora de suas próprias
convicções e vontades. Porém... Sempre houve um porém que eu nunca soube qual
era.
O
fato é que eu sempre achei os garotos mais legais e eu me sentia mais a vontade
com eles. Houve um caso em que chegaram a insinuar que eu era homossexual (como
se isso fosse uma monstruosidade), mas no momento eu estava mais preocupada em
escolher um adesivo bacana de carrinhos....

Eu
não conquistei o mundo e tive mil e uma desilusões e minha autoestima foi esmagada
pelos padrões de beleza e de comportamento (mas eu tinha algum orgulho na época
e fingia que “nada me ofendia”). Ouvi muitas vezes: “ele não gosta de você
porque você é gorda”, “você não vai arrumar namorado, prenda essa cabelo”, “você
tem que ser mais delicada e se vestir como uma mocinha”.
Curiosamente,
sofrendo pelo machismo (eu não sabia o que era isso na época) continuava devota
e apaixonada pelos homens. Eu admirava os meus professores e alguma ou nenhuma
professora, e quem eu culpava era minha mãe e minha avó pelas palavras que
tanto me magoavam. Eu era adolescente e não entendia (por isso a necessidade de
chegar às adolescentes) que elas apenas reproduziam o que aprenderam, tão
sujeitadas aos padrões quanto o restante do mundo.
Hoje,
pensando melhor, acho que minha antiga identificação com o mundo masculino era
um simples desejo de ter o que eles tinham/têm (e eu não estou me referindo a
um falo, com o freudistas –sim, freudistas e não freudianos- podem supor). O
que eu quero dizer é que o meu irmão podia brincar livremente pela rua, correr
e se machucar e estava “tudo bem” porque era “coisa de menino”, os rapazes
adolescentes podiam chegar casa mais tarde, ficar com várias garotas e até
ouvir rock (é, disseram que rock era coisa de moleque) sem serem recriminados,
os homens sempre me pareceram mais seguros e donos de si, afinal tinham/têm um
espaço no mundo e isso era/é escancarado, defendido e legitimado.
Logo,
eu só “queria ser homem” porque eu queria ter voz. Felizmente, em algum momento
eu me dei conta que eu não precisava ser isso ou aquilo para ter voz, bastava
ser EU para ter a “MINHA” voz. E com um pouquinho mais de tempo, percebi que me
identificando com o gênero feminino deveria me juntar e lutar por todas as
vozes das pessoas que se identificam também e sofrem com a opressão (na maioria
das vezes muito mais perversa do que eu sofri) do patriarcado e do machismo.
terça-feira, 12 de maio de 2015
Depressão, Dans La Cour e Cássia Eller
Eu tenho depressão. Eu já nem sei há quanto
tempo e me trato a mais de 10 anos. Sempre li muito sobre a doença e busquei as causas numa vã expectativa de
cortar o mal pela raiz. Não consegui e hoje tenho consciência que não conseguirei.
E pelo contrário do que possam imaginar, acho isso bom, essa certeza me deixa
em paz. Ter depressão não significa estar sempre num quadro depressivo. Entre
tantos sentimentos e comportamentos que a depressão pode causar, para mim, o
pior é o da ausência. Hoje eu vivo sedenta, tentando evitar a ausência.
Estou falando disso porque acabei de ver um
filme que trata do assunto “Dans La Cour”, de Pierri Salvadori. Como na maioria
das vezes, eu escolho os filmes pelas características mais simplórias: a capa
me agradou, tem algum ator que eu gosto, a sinopse é interessante. O filme em
questão não foi escolhido pela sinopse, escolhi pelo simples fato de ser
francês e com a Catherine Deneuve. Achei o início insosso e acabei adormecendo,
mas as personagens tinham algo que me agradava e achei injusto desistir assim
logo de cara. Retomei a sessão pela manhã e felizmente fui até o final.
Dans La Cour é leve, melancólico e doce. E em
uma única cena o diretor conseguiu exprimir exatamente o que é o estado
depressivo: Antoine (um músico que abandonou a carreira para ser ‘qualquer
coisa’, tornou-se porteiro e foi fazer o
que chamou de trabalho ideal “lavar e esfregar”) encontra a ex-esposa e ela lhe
pede que volte para casa e confessa estar triste, sem saber o que fazer ele
apenas diz: “Tenho inveja de você”. Sim, ele tem inveja, ela ainda sente... mesmo
que seja algo ruim, ela sente.
Mario Sérgio Cortella uma vez definiu a
depressão não como “o contrário de estar feliz” e sim como “ausência”. E é
exatamente isso que Antoine tem : um vácuo de sentimento, de vontade, de
vida. Como a personagem de Catharine,
Mathilde (também depressiva, mas em uma situação diferente), o descreve no
final: “Homem em si, alheio as circunstâncias”.
Quando nos percebermos assim, “alheios” e
apáticos vem um desespero que Cássia cantaria em: “Já não sinto amor, nem dor, já não sinto
nada. Socorro, alguém me dê um coração, que este já não bate nem apanha.”. Mas
depois... depois não há o que fazer, nos acostumamos e viramos robôs que apenas
respiram e respondem automaticamente.
Não é fácil sair deste estado, já estive
muitas vezes nele e já vi pessoas próximas e que gosto muito assim também. A
primeira vez que fiquei reclusa foi com 17 anos, fiquei 5 meses sem sair do
quarto e me lembro disso vagamente, minha mente adora apagar minhas crises.
Numa lista que fiz de 30 familiares/amigos,
17 foram diagnosticados e 7 apresentavam sintomas de depressão. Pouquíssimos
fizeram tratamento por vergonha, por preguiça, por desânimo, por não acreditar
em terapia, por não querer tomar remédios, por não ter dinheiro. Entristeço-me
com essa situação mas cada um tem seu tempo e suas formas de lidar com seus
monstros interiores.
Como disse no começo hoje eu tenho sede e
tento me manter sedenta. Por tudo, por todos, por cada conversa, cada palavra,
cada contato, cada momento, cada sentimento. Eu me alegro com meu riso e no
fundo me alegro também com meu choro. Minha tristeza, dor e choro são sinais de
vida. E buscando a paz me dei conta de que a paz está nisso: no sentir e querer
viver.
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