terça-feira, 12 de maio de 2015

Depressão, Dans La Cour e Cássia Eller

Eu tenho depressão. Eu já nem sei há quanto tempo e me trato a mais de 10 anos. Sempre li muito sobre a doença  e busquei as causas numa vã expectativa de cortar o mal pela raiz. Não consegui e hoje tenho consciência que não conseguirei. E pelo contrário do que possam imaginar, acho isso bom, essa certeza me deixa em paz. Ter depressão não significa estar sempre num quadro depressivo. Entre tantos sentimentos e comportamentos que a depressão pode causar, para mim, o pior é o da ausência. Hoje eu vivo sedenta, tentando evitar a ausência.
Estou falando disso porque acabei de ver um filme que trata do assunto “Dans La Cour”, de Pierri Salvadori. Como na maioria das vezes, eu escolho os filmes pelas características mais simplórias: a capa me agradou, tem algum ator que eu gosto, a sinopse é interessante. O filme em questão não foi escolhido pela sinopse, escolhi pelo simples fato de ser francês e com a Catherine Deneuve. Achei o início insosso e acabei adormecendo, mas as personagens tinham algo que me agradava e achei injusto desistir assim logo de cara. Retomei a sessão pela manhã e felizmente fui até o final.
Dans La Cour é leve, melancólico e doce. E em uma única cena o diretor conseguiu exprimir exatamente o que é o estado depressivo: Antoine (um músico que abandonou a carreira para ser ‘qualquer coisa’, tornou-se porteiro e foi  fazer o que chamou de trabalho ideal “lavar e esfregar”) encontra a ex-esposa e ela lhe pede que volte para casa e confessa estar triste, sem saber o que fazer ele apenas diz: “Tenho inveja de você”. Sim, ele tem inveja, ela ainda sente... mesmo que seja algo ruim, ela sente.
Mario Sérgio Cortella uma vez definiu a depressão não como “o contrário de estar feliz” e sim como “ausência”. E é exatamente isso que Antoine tem : um vácuo de sentimento, de vontade, de vida.  Como a personagem de Catharine, Mathilde (também depressiva, mas em uma situação diferente), o descreve no final: “Homem em si, alheio as circunstâncias”.
Quando nos percebermos assim, “alheios” e apáticos vem um desespero que Cássia cantaria em:  “Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada. Socorro, alguém me dê um coração, que este já não bate nem apanha.”. Mas depois... depois não há o que fazer, nos acostumamos e viramos robôs que apenas respiram e respondem automaticamente.
Não é fácil sair deste estado, já estive muitas vezes nele e já vi pessoas próximas e que gosto muito assim também. A primeira vez que fiquei reclusa foi com 17 anos, fiquei 5 meses sem sair do quarto e me lembro disso vagamente, minha mente adora apagar minhas crises.
Numa lista que fiz de 30 familiares/amigos, 17 foram diagnosticados e 7 apresentavam sintomas de depressão. Pouquíssimos fizeram tratamento por vergonha, por preguiça, por desânimo, por não acreditar em terapia, por não querer tomar remédios, por não ter dinheiro. Entristeço-me com essa situação mas cada um tem seu tempo e suas formas de lidar com seus monstros interiores.

Como disse no começo hoje eu tenho sede e tento me manter sedenta. Por tudo, por todos, por cada conversa, cada palavra, cada contato, cada momento, cada sentimento. Eu me alegro com meu riso e no fundo me alegro também com meu choro. Minha tristeza, dor e choro são sinais de vida. E buscando a paz me dei conta de que a paz está nisso: no sentir e querer viver. 

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