sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Nada mais importa


Quando alguém que você ama fica gravemente doente, nada mais importa.
Não importa mais a rua e os outros. Não importa quanto você vai caminhar para chegar em determinado lugar, se vai de ônibus ou não, se estará atrasada, se o sol vai estar forte ou se vai chover, se você vai encontrar algum conhecido.  Não importa a roupa que você vai colocar no outro dia, se seu cabelo vai estar ou não penteado, a maquiagem para disfarçar as olheiras nem o blush para ficar com aspecto saudável e se o que as pessoas vão achar da sua aparência e das suas palavras. Não importa se você vai conseguir fingir sorrisos, se você vai segurar o choro e se vai conseguir cumprir as metas. Não importa mais se você gosta do trabalho, se você recebe bem, se seu esforço vai resultar em algo e se alguém vai notar. Não importam mais as dores, a dor de cabeça ou a cólica no rim, os sofrimentos de amores passados, os traumas de infância. Todas as palavras e ações que te machucaram ficam suspensas no ar, elas não desaparecem, em algum momento irão voltar, mas agora uma dor maior as mantem distantes.  Não importa o que seus amigos vão achar, é possível que a maioria dele nem saiba, então os de sempre vão permanecer e outros vão te julgar e te deixar e isso não importa. Aquele curso que definiria sua carreira profissional, não importa mais assim como não importa o que você estudou e todo o conhecimento que acumulou, afinal ele não serve de nada agora. Não importa a política, não importam as guerras no oriente e quem lucra com elas, não importa se foi ou não golpe ou quem está no poder. Importa se o sistema público de saúde vai funcionar, se os exames vão ser rápidos, se os médicos vão fazer o possível para salvar esse alguém. Não importa o seu futuro, o que importa é pensar qual parte do futuro essa pessoa presenciaria: o neto crescendo, talvez o nascimento de uma criança. E se houver casamento, quem entrará na igreja com a noiva? Ele sempre falou de um casamento da filha na igreja...  Suas crenças não importam mais, a necessidade de fazer promessa, simpatia, oferecer sua vida no lugar da outra pessoa é maior que qualquer fé ou falta dela.
Nada mais importa, porque a pessoa que te ensinou a nadar, uma das pessoas que te pegou no colo enquanto você caía, a pessoa que te ensinou a dirigir, a pessoa que teve paciência quando fez burrada, a pessoa que se sacrificou para te manter nessa vida da melhor forma possível, a pessoa que te acorda tocando seus rosto suavemente, uma das pessoas que sempre aguentou suas crises, uma das pessoas mais bondosas que você já conheceu, a única pessoa que fica brava e ainda te chama pelo apelido, uma das pessoas mais incríveis do mundo tá doente e não há absolutamente nada que você possa fazer.
Nada mais importa, porque a única coisa que você quer é ter mais tempo com ela.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Você me ajuda pelo amor ao mar?
quando você se joga sem dúvida na água e deixa 
a onda de sal e vida te levar?
Ou então pelo amor ao céu?
o qual você suspira admirando as luminosas
ou se acarinha no peito da lua  fria que nos ignora como deus?

Eu fui desescalar o interior das tuas pernas e

começou a desmoronar. Minhas cordas vocais não aguentaram a pressão
Cairam como Alice num buraco sem gato. Fiquei sem grito, no sufoco engasgada

Alguém me ajuda porque eu já não sei como controlar

tem muito amor eclodindo e ainda tem outros ninhos por lá
Todo mundo sabe que veias entupidas de afeto podem romper a qualquer momento.

As palavras dançaram arrancando meus olhos e os dispondo noutro salão

Encontrei aliviada um coelho branco, mas esse era comum,
só roía meus pés e olhava pro mundo com olhos de sabão

Com a visão perdida dentro dos teus poros, fui proutros sentidos

Os teóricos correram gargalhando da minha incapacidade de ação
Virei cabra-cega, um bobo da corte da monarca Vida

Na festa havia violinos desafinados arranhando pra todo lado

Van Gogh ofereceu girassois ao meu nariz e aproveitou para
minhas orelhas cortar. Como posso culpá-las de pedir ajuda a um amigo?

Ajuda porque meus dedos já estão se retraindo

E só as mãos podem ainda me salvar
Pensei que seria onça pela unha afiada que se tornou o menorzinho
Mas logo veio a garra de coruja no anelar
Ajuda porque daqui a pouco não consigo nem escr

domingo, 26 de julho de 2015

Cansa ser de Humanas


Eu acho MUITA graça dessa zoeira de ser de "humanas" e "fazer miçanga". Inclusive eu mesma faço piada disso ao menos uma vez por dia. Mas já que eu sou de humanas (e cansativa), cabe problematizar, não?
Algumas possíveis interpretações:
- "vender minha arte na praia" (sim, eu sei que era de um vídeo e virou meme e mimimi) - Arte (adoram dizer que história é arte tentando desqualificá-la, como se arte tivesse valor menor que a ciência). Praia, teoricamente, é pra relaxar, ficar tranquilo, onde não se precisa levar nada a sério.
- "fazer vários nadas" - Insinua que cientistas humanos não fazem nada e se fazem é irrelevante, logo é como se não fosse nada (-- Ai Paula, que nada a ver --Péra,mig, péra que tem algo mais concreto que minha leitura).
É nítido que isso é reflexo de como cientistas humanos são vistos pela comunidade científica de exatas e biológicas, pela sociedade e pelo Estado.
Eu cursei Geografia e os professores chamavam atenção para o objeto dela e a necessidade de delimitar o que era geografia e o que não era, talvez não só por um arcaísmo positivista, mas para conferir legitimidade à ciência. Agora, cursando História, vejo como a todo momento temos que ficar provando que o quê fazemos é ciência, mesmo que haja algo de artístico nela. É cansativo ter de convencer todas as pessoas e sempre que estudamos muito, que temos métodos e ficar citando exemplos da nossa relevância social, política, econômica e cultural e pior que isso, é injusto sermos inferiorizados e desvalorizados pelo(s) Estado(s) e Instituições Privadas de Pesquisa. Vide os exemplos:
-"Ciências sem Fronteiras" não contempla C.H. ;
- No prêmio "Mulheres na Ciência" de L'Oréal/UNESCO/ABC não tem categoria para Cientistas Humanas;
- A inconstância da Sociologia e Filosofia no Currículo do Ensino Básico;
- Pesquisadores de Engenharia têm em média um salário de R$ 12.000,00, pesquisadores e profissionais da Saúde de R$ 8.000,00, já os da C.H menos de R$ 3.000,00 (Dados do IPEA, 2012);
- Desvalorização e precarização do profissional da Educação.
A piada é válida e engraçada, mas revela bem mais que uma rixa entre os estudantes. 

Enquanto a modernidade não cai de vez nem há projeto educacional sério no país nem há implosão total do capitalismo... a gente continua rindo, mas sem deixar de correr atrás da mudança. 
Rindo e fazendo origami de dinossauro! *-* 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Quantos dos seus amigos são Porcos Espinhos?


Ela tinha 11 anos gostava de se esconder, filmar os outros e queria se matar no próximo aniversário. Sentia que para ela havia um lugar no mundo, mas de tal forma ilógico e predestinado que a tornava depressiva.
Essa é Paloma, personagem do filme “O Porco Espinho”, o primeiro filme da diretora francesa Mona Achache, lançado em 2009.
Durante o filme acompanhamos Paloma construindo laços afetivos com Kakuro Ozu, o novo morador do prédio, e Renée, a zeladora “educada, mas não simpática”. Entre outros elementos, há um, que considero o principal conector entre as personagens: o conhecimento.
É fácil se identificar com as personagens e recordar momentos como o delas: uma frase completada por um desconhecido, a arrogância de quem te acha invisível, a briga com os pais, a gentileza inesperada, trocar olhares de entendimento e etc...
Sabe aquela sensação de: eu queria que essas pessoas fossem minhas amigas? Como viram é fácil gostar do filme. 
O que é difícil é olhar para o lado e não sentir isso. Não entendam como auto piedade, é apenas uma constatação: laços afetivos estão cada vez mais escassos. Encontrar-se no mundo às vezes parece impossível.
Não é uma mera questão racional, como por exemplo: “ah, temos os mesmos gostos, seremos amigos”, ou “Temos amigos em comum, logo nos identificaremos”... não é isso de que falo.
Falo de olhar para o outro e perceber e admirar a grandeza abismal de sentimentos, pensamentos, experiências que estão na sua frente, de reconhecer um coração batendo e vivendo tanto quanto o seu, ver a beleza da dialética entre qualidades e defeitos que constroem e reconstroem aquele ser a cada instante.
É poder conversar horas a fio sem precisar, sem cobrar e se sentir confortável nos silêncios. É se conectar e querer manter a conexão apesar das divergências. É saber que assim você aquela pessoa também luta e sonha com algo melhor. Poder chorar sem sentir vergonha e rir de absurdos.
Eu encontro no mínimo 40 pessoas todos dos dias, segundo meu Facebook eu já me encontrei e cumprimentei umas 800 pessoas.
E com quantas eu sinto a tal da conectividade? Sendo otimista: com 5 pessoas, sendo que 3 dessas eu raramente encontro/converso. E então eu só posso concordar com Nietzsche quando ele diz: “A arte existe para que a realidade não nos destrua.”, logo  desejo que a música, os livros e os filmes nos ofereçam suas mãos, nos abracem na carência, riam da nossa melancolia e afaguem nossos corações.