Quase minha vida toda eu admirei homens, homens do gênero masculino, digo. Os meus cantores favoritos eram homens, os escritores e poetas também homens, bem como atores e a maioria dos meus amigos sempre foram homens.
Quando
era pequena e não gostava de brincar de boneca e casinha, vestia-me com “roupas
de menino” e um boné na cabeça para jogar futebol na rua, subir na árvore,
andar de bicicleta, jogar bete com meus amigos “homens”.
Minhas
referências femininas sempre foram mulheres fortes: minha mãe: mandona e
incisiva; minha avó materna: de aparência fria, trabalhadora e independente,
uma fortaleza; minha avó paterna: corajosa e senhora de suas próprias
convicções e vontades. Porém... Sempre houve um porém que eu nunca soube qual
era.
O
fato é que eu sempre achei os garotos mais legais e eu me sentia mais a vontade
com eles. Houve um caso em que chegaram a insinuar que eu era homossexual (como
se isso fosse uma monstruosidade), mas no momento eu estava mais preocupada em
escolher um adesivo bacana de carrinhos....

Eu
não conquistei o mundo e tive mil e uma desilusões e minha autoestima foi esmagada
pelos padrões de beleza e de comportamento (mas eu tinha algum orgulho na época
e fingia que “nada me ofendia”). Ouvi muitas vezes: “ele não gosta de você
porque você é gorda”, “você não vai arrumar namorado, prenda essa cabelo”, “você
tem que ser mais delicada e se vestir como uma mocinha”.
Curiosamente,
sofrendo pelo machismo (eu não sabia o que era isso na época) continuava devota
e apaixonada pelos homens. Eu admirava os meus professores e alguma ou nenhuma
professora, e quem eu culpava era minha mãe e minha avó pelas palavras que
tanto me magoavam. Eu era adolescente e não entendia (por isso a necessidade de
chegar às adolescentes) que elas apenas reproduziam o que aprenderam, tão
sujeitadas aos padrões quanto o restante do mundo.
Hoje,
pensando melhor, acho que minha antiga identificação com o mundo masculino era
um simples desejo de ter o que eles tinham/têm (e eu não estou me referindo a
um falo, com o freudistas –sim, freudistas e não freudianos- podem supor). O
que eu quero dizer é que o meu irmão podia brincar livremente pela rua, correr
e se machucar e estava “tudo bem” porque era “coisa de menino”, os rapazes
adolescentes podiam chegar casa mais tarde, ficar com várias garotas e até
ouvir rock (é, disseram que rock era coisa de moleque) sem serem recriminados,
os homens sempre me pareceram mais seguros e donos de si, afinal tinham/têm um
espaço no mundo e isso era/é escancarado, defendido e legitimado.
Logo,
eu só “queria ser homem” porque eu queria ter voz. Felizmente, em algum momento
eu me dei conta que eu não precisava ser isso ou aquilo para ter voz, bastava
ser EU para ter a “MINHA” voz. E com um pouquinho mais de tempo, percebi que me
identificando com o gênero feminino deveria me juntar e lutar por todas as
vozes das pessoas que se identificam também e sofrem com a opressão (na maioria
das vezes muito mais perversa do que eu sofri) do patriarcado e do machismo.
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