Ela tinha 11 anos gostava de
se esconder, filmar os outros e queria se matar no próximo aniversário. Sentia
que para ela havia um lugar no mundo, mas de tal forma ilógico e predestinado
que a tornava depressiva.
Essa é Paloma, personagem do
filme “O Porco Espinho”, o primeiro filme da diretora francesa Mona Achache,
lançado em 2009.
Durante o filme acompanhamos
Paloma construindo laços afetivos com Kakuro Ozu, o novo morador do prédio, e
Renée, a zeladora “educada, mas não simpática”. Entre outros elementos, há um,
que considero o principal conector entre as personagens: o conhecimento.
É fácil se identificar com
as personagens e recordar momentos como o delas: uma frase completada por um
desconhecido, a arrogância de quem te acha invisível, a briga com os pais, a
gentileza inesperada, trocar olhares de entendimento e etc...
Sabe aquela sensação de: eu
queria que essas pessoas fossem minhas amigas? Como viram é fácil gostar do
filme.
O que é difícil é olhar para o lado e não sentir isso. Não entendam como
auto piedade, é apenas uma constatação: laços afetivos estão cada vez mais
escassos. Encontrar-se no mundo às vezes parece impossível.
Não é uma mera questão
racional, como por exemplo: “ah, temos os mesmos gostos, seremos amigos”, ou “Temos
amigos em comum, logo nos identificaremos”... não é isso de que falo.
Falo de olhar para o outro e
perceber e admirar a grandeza abismal de sentimentos, pensamentos, experiências
que estão na sua frente, de reconhecer um coração batendo e vivendo tanto
quanto o seu, ver a beleza da dialética entre qualidades e defeitos que constroem
e reconstroem aquele ser a cada instante.
É poder conversar horas a
fio sem precisar, sem cobrar e se sentir confortável nos silêncios. É se conectar
e querer manter a conexão apesar das divergências. É saber que assim você aquela
pessoa também luta e sonha com algo melhor. Poder chorar sem sentir vergonha e
rir de absurdos.
Eu encontro no mínimo 40
pessoas todos dos dias, segundo meu Facebook eu já me encontrei e cumprimentei
umas 800 pessoas.
E com quantas eu sinto a tal
da conectividade? Sendo otimista: com 5 pessoas, sendo que 3 dessas eu
raramente encontro/converso. E então eu só posso concordar com Nietzsche quando
ele diz: “A arte existe para que a realidade não nos destrua.”, logo desejo que a música, os livros e os filmes nos ofereçam suas mãos, nos abracem
na carência, riam da nossa melancolia e afaguem nossos corações.