quarta-feira, 16 de julho de 2014

Promíscua?

Não, não é que eu seja promíscua como ele me disse da última vez. Teria me chamado puta, mas um "palavrão" em sua boca seria como um verme em pétalas de rosa. Era doce demais, gentil demais e sem graça demais para aumentar o tom de voz, soltar sua fúria, xingar... velho!
Mas não vamos nos ater a ele e sim a mim, que é quem realmente importa. Não sou promíscua, eu só me aceito e não sou hipócrita.
Sou como uma longa língua de serpente que rodeia as mais sinuosas e minúsculas partes de um corpo, procurando onde cravar as presas e liberar fluidos. Isso não é maldade, é apenas solidão. Preciso dos outros tanto quanto o pintor precisa dos girassóis amarelíssimos ainda desfeitos nas cerdas do pincel. Preciso dos outros  tanto quanto o fogo do absinto precisa da língua. Preciso dos outros tanto quanto as vozes dos desaparecidos precisam da escuridão para se multiplicar
Nem vulgar eu chego a ser. Sou distante e próxima como uma visão amanhecida em meio a suor, gemidos e raios de sol que mormaçam o quarto. Dor ou prazer, não importa, penetrei pela narina e sai pelos poros num suspiro profundo, num piscar dobrado. Queriam mais e eu também. Efêmera, só intensidade ofereço e sempre deixo isso bem claro. A promiscuidade permitiria isso? O esclarecimento dos fatos, o jogo limpo?
Denominem-me do que quiserem: santa, vagabunda, criança, maliciosa, exótica, culta, estúpida, profana. Sintam o que puderem: amor, desejo, ódio, compaixão, empatia, tesão. Creiam os senhores, tão sabidos de mim, que  eu-não-me-im-por-to. Essa necessidade de classificação só mostra os quão medíocres os sábios são. Aristóteles que dane com seus métodos. O bom é ser e sentir e não falar como e para que ser e sentir.
Amei a todos. Uma pequenina parte de todos: o olhar juvenil de um, a risadinha forçada do outro, as pequenas falhas da sobrancelha negríssima, os dedos  pontiagudos das compridas mãos, a boca fina de sorriso caído, as orelhas pequeninas, os pelos exagerados, a cicatriz na barriga... amei pequenos detalhes, pequenos gestos e principalmente as pequenas dúvidas de cada homem com quem me relacionei.
Não passo de um momento. Momento em que estive sôfrega na boca de um, em pé diante do outro, extasiada com os lábios preenchidos, obediente olhando para o chão, mandando sobre as costas, deslizando na água, murmurando num ouvido, exalando paixão, em silêncio contemplando o depois.

Sou sincera demais para ser promíscua, sou humana demais para corresponder suas expectativas de amor platônico e cristão. Sou demais para vocês.

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