Os dias estavam quentíssimos e
todo o mormaço do ambiente era sugado pelo nariz das pessoas, o que era para
ser oxigênio alimentando células mais parecia enxofre invadindo suas almas.
Os ossos como se desestruturados não mantinham
a firmeza dos corpos e os olhos, os órgãos e as vísceras derretendo. Se olhasse
atentamente para a pele viscosa, veria as gotas salgadas surgindo
incessantemente dos poros.
Ela detestava o calor, aquelas
vozes cansadas entupiam seus ouvidos. Aquele não era seu lugar. Não num dia 15,
independente do mês e ano. Não, não era para estar ali.
Faltavam exatamente 3 horas e 17
minutos para ir embora. Levantou, olhou pela janela e olhou as tristes árvores
que não acenavam nenhuma folha. Sentou e escreveu o esboço do projeto. Olhou
para o relógio e só haviam passados 20 minutos.
Esbravejou:
_Como pode?
Todos olharam para ela.
Ruborizada, sorriu forçadamente e disse que o computador estava travando.
Então, sorriram e ignoraram-na.
Respirou fundo, perguntou
mentalmente se ele ainda lembrava-se da data, entristeceu-se, claro que não.
Não fazia diferença. Haviam brigado. Discutiram por algo que ela nem lembrava
mais. Maldita comunicação!
Levantou-se, foi a cozinha, abriu
a velha geladeira que já não gelava, pegou água. A água fresca na boca trazia
alivio e por 3 segundos, esqueceu-se de todos os problemas, quando o líquido
desceu sua garganta e enlagueou o estômago. Ao levar, lentamente, o copo a pia,
uma joaninha vermelha posou em sua mão. Aproximou a mão dos olhos e viu o inseto
abrindo seus dois pares de asas e de súbito voando. Sorriu e lacrimejou.
Uma pequena felicidade, uma leve
esperança atingira seu coração. Resolveu mandar um e-mail para um amado e na
falta de palavras existentes no mundo para se expressar, escreveu: sinto sua
falta. Fechou o e-mail e conteve-se para não esperar, em vão, uma resposta.
Já na hora de partir, pegou suas
coisas, desceu as escadas, sentiu um doce vento no rosto. Olhou para o portão e
viu uma silhueta conhecida. Estava delirando? Aproximando-se, o cheiro também
era conhecido. Tocou o braço do homem e sentiu os macios pelos correspondendo
ao toque. Sorriram, abraçaram-se, mas não disseram nada.
Já na casa dela, em silêncio,
ambos se olhavam. Ela, com o coração disparado, queria entrar naquele olhar que apesar de tímido, era revelador. Quase
verde tal como uma mata tropical distante prometendo o paraíso. A pele branca,
o cheiro, a barba sedosa. Ela se deu conta do quão era bonito e o quanto ela o
desejava não somente naquele momento, mas para sempre, além-vida.
Ele inclinou delicadamente o rosto para perto do dela. Fecharam os olhos
e instintivamente as bocas se encontraram. Os lábios, a língua e a saliva dele
eram como a água que ela bebera à tarde, mas dessa vez o alivio não foi apenas
de três segundos, ela sabia que aquele alívio seria para a vida toda.